sábado, 28 de março de 2009

O Homem e a Natureza

Nos já algo longínquos tempos do Mestrado, lembro-me em particular de um estudo que fiz. Já não me lembro muito bem da pergunta, lembro-me ainda menos da resposta que dei, tenho-a algures arquivada em Portugal, mas diversos pontos fazem-me lembrar este ensaio em especial.

Um primeiro foi o facto de o ter escrito em português. O Professor da disciplina de Geografia da China era americano e leccionava em Londres. Aprendeu a ler português com um livro de Saramago e um diccionário. Só isto já merece respeito. E pelo respeito que lhe devia, decidi escrever o meu ensaio em português, ao contrário dos restantes colegas, ponto que ele apreciou.

Além disso, foi um dos melhores exames, e o Professor apreciou bastante a dose de reflexões que incluí. Ainda me lembro ele ter-se lamentado eu não ter indicado a bibliografia - já que me baseei na lista que ele tinha dado.

Por fim, um ponto ficou-me entravado. A questão tinha alguma relação com a luta contra a natureza empreendida pelo Mao, e os subsequentes problemas ambientais que Deng tentou resolver. Um dos pontos que vinquei no ensaio era o de que durante a China imperial o Homem vivia em harmonia com a natureza e após a revolução comunista tornou-se uma luta. O Professor não concordou com este argumento. Leituras posteriores levaram-me a concordar com ele, e por conseguinte a discordar comigo.

De facto, a China é um país com uma dimensão quase idêntica à dos Estados Unidos, mas a sua terra arável corresponde a perto de um terço do seu território. É sabido que durante a China imperial o seu território não era tão vasto: a China nasceu na Bacia do Rio Amarelo e foi-se extendendo entre as bacias deste rio e do Rio Yantze (ou como prefiro, Changjiang). No entanto, terra fértil para uma população crescente sempre foi uma grande preocupação dos governos chineses: basta olhar para a História e verificar que quando havia constantes más colheitas, surgiam rebeliões que acabavam por derrubar a dinastia reinante. Por isso, todo um sistema foi criado à volta das necessidades agrícolas: o calendário, as cerimónias, o mandato do Céu, a própria legitimade do governante, o sistema das granarias, etc. E com base nas necessidades agrícolas, o natureza foi sendo moldada.

Já o Livro da História (尚书) relata as contribuições de Yu (禹贡) para não só identificar o seu império, mas principalmente para moldar o relevo – criar terrenos para a agricultura, orientar rios e canais para evitar cheias... Muitas lendas chinesas colocam lugar de destaque para inovações na agricultura, controlo de cheias, construção de canais, etc.

Na mordernidade, a diferença desta contante luta contra a natureza deve-se ao facto do auxílio adicional oferecido pela maquinaria e tecnologia: promoveu a luta em maior escala e acelerou os problemas negativos causados pela industrialização. Hoje em dia, continuam os grandes projectos de construção como a Barragem das Três Gargantas (Sanxia). Isto é, a China, para poder suster o crescimento da população, tem de manter tal luta contra a natureza. A diferença entre o passado recente e o presente é que de uma luta pura contra a natureza, neste momento a China vê-se com necessidade de promover uma luta sustentável. Caso contrário, o aumento de produtividade irá a longo termo ter mais efeitos negativos.

2 comentários:

Antiego disse...

O Grande esforço de florestação está realmente a trazer grandes beneficios ou os resultados são duvidosos?

Já li opiniões contrárias.

Alexandre Almeida disse...

Olá Antiego!

Julgo que o problema da desertificação é apenas um dos problemas ambientais que a China enfrenta hoje em dia...

O maior esforço de florestação julgo ser na Mongólia Interior, para evitar as tempestades de areia que se têm tornado comuns em Pequim. No entanto, devido já ao elevado grau de desertificação (presumo igualmente por causas naturais nessa latitude, como por exemplo a desertificação também em Qinghai), tais esforços não estão a obter os resultados pretendidos.