quarta-feira, 15 de abril de 2009

O mundo aos olhos da publicidade

A publicidade irrita, enfada, aborrece, intromete-se, enfurece, perturba, incomoda e irrita. Eu sei que escrevi duas vezes 'irrita', mas isso é apenas porque irrita mais do que o restante. Alguém disse que vivemos na era da publicidade, e de facto ela tenta entrar-nos pela vida dentro, ocupar todos os espaços em branco, popular a paisagem, gritar as suas marcas, produtos e especialidades, as razões porque devemos largar tudo e comprar o que mostram...

Quem lê e aprende sobre publicidade, tende a reconhecer ainda mais o cinismo: basicamente, tentam pegar em si e colocá-lo num grupo com base na idade, sexo, posições e orientações, gostos e atitudes, isto é, tirar toda a sua identidade própria para se integrar num grupo comercialmente viável para depois promover o produto de forma a que se sinta único.

Mas a publicidade tembém tem as suas vantagens: quando um anúncio é interessante, pode fazer-nos rir; quando procuramos um produto que não temos muito conhecimento, pode ajudar-nos a identificá-lo; .....hum..... julgo que é só.

Existe ainda uma outra vantagem, quando nos cruzamos com culturas diferentes: a publicidade reflecte a cultura de cada povo. Tal como os vampiros conseguem identificar o melhor sangue (a vantagem de seres imaginários é que podemos inventar o que quisermos sobre eles), também os publicitários fazem espelho da cultura quotidiana. Por exemplo, quem come sopa ao pequeno-almoço pode certamente ver anúncios de sopa durante a manhã. Por vezes erram o alvo: presumem que a globalização está mais avançada do que realmente está, e enviam o anúncio errado para o povo certo. Por vezes, tentam ser originais e são apenas de mau gosto ou irritantes. Nao sei qual a reacção em massa ao anúncio em Portugal de uma marca qualquer de ice tea (tenho de escrever ice tea, se em Portugal peço um chá gelado ficam a olhar para mim como se estivesse a falar alemão e após muitos segundos perguntam reticentes se o que pedimos é um ice tea), mas cada vez que ouço o Mudasti! sinto que me pretendem torturar, e sinto-me feliz por apenas passar alguns dias em Portugal.

Mas voltando ao tópico, a publicidade reflecte a cultura dos povos. Se querem ganhar dinheiro com esses povos, têm de os convencer, e nada melhor do que apelar aos seus valores. Por isso, podem tentar a experiência de quando chegam a um país novo, vejam televisão. Em pouco tempo terão uma ideia da cultura do novo país.

E é assim que voltamos à China, tópico constante deste blog. Dois produtos já me chamaram à atenção: vinho e carros. O vinho, quando publicitado em Portugal, geralmente mostra um grupo de amigos, a disfrutarem da companhia e da bebida, normalmente jovens, etc. Obviamente existem excepções: lembro-me do Martini Man durante a minha adolescência, ou da campanha do vinho do Porto que não era só para o Natal. Mas no fundo pretende tornar o vinho um bem básico, para não dizer uma necessidade (beba com moderação!).

Com os carros, realçam a segurança, design, liberdade e facilidade de condução, conforto, acessórios.

E na China? O vinho é apreciado de modo diferente. Os carros também. São bens de luxo. Mostram o sucesso das pessoas. Quem tem tal produto é uma pessoa de classe, de sucesso, da elite. No vinho mostram o peso da sua história, a cerimónia do evento no qual bebem, o luxo do ambiente. Nos carros, já vi um anúncio em que um condutor sai do carro num palco e é aplaudido por uma multidão. O produto reflecte o utilizador. O utilizador reflecte o produto. Tem tudo de cheirar a sucesso.

De igual modo, quando pretendem mostrar que outro produto se situa ao mesmo nível, utilizam a mesma simbologia. Já vi um anúncio televisivo em que um ocidental apreciava leite num copo de vinho do mesmo modo como quem aprecia o vinho. Num anúncio de rua, publicidade a umas balas de chocolate mostravam um copo - mais uma vez - de vinho com esses doces.

Comentários? Se vende é porque as pessoas reconhecem-se na publicidade que vêem...