quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A crise na China

Durante o Ano Novo Chinês proliferaram os comentários e fotos sobre as comemorações, significados e festejos. Eu devo ser o único que o não fiz, e poderia apontar a preguiça pura para o não fazer, mas tenho uma outra boa desculpa, o facto de que já fiz a revisão do ano anterior e, para quem celebra a oitava passagem de ano chinês na China, já não é novidade. Sabe-se que se tem fogo de artifício e petardos, come-se peixe pelo menos no sul, raviolis chineses pelo menos no norte, etc.

Decidi, por isso, abordar a temática do ano novo chinês englobando-a na resposta a uma pergunta que se está a tornar comum para os que não vivem na China: ‘a crise, sente-se na China?’

A resposta é claramente afirmativa. Talvez não tão feroz e comummente falada (aqui estão novamente os dois ‘m’) como em Portugal, talvez não tão presente no dia a dia do acordar ao dormir, mas sente-se. Para ser mais objectivo e claro, e atirar alguns números para mostrar que leio jornais, o diário chinês de língua inglesa China Daily de ontem trouxe uma notícia de primeira página em que se calcula que 20 milhões de trabalhadores migrantes perderam os seus empregos, notícia aliás que hoje já se ouvia em Portugal. Este número representa algo como 15,3% de toda a população migrante (que são 130 milhões), contribuindo para a taxa de desemprego total nos 4,2%. Aparte do risco social que estes números podem provocar, hoje vamos limitarmo-nos a dar algumas indicações sobre como a crise se nota.
Durante o ano novo chinês, no passado dia 25 para 26 de Janeiro, pelo menos em Shanghai, sentiu-se a crise. Fui com um grupo de amigos passar o ano novo junto ao rio, numa das zonas mais características de Shanghai, o Bund ou Waitan, e não ouve nenhum fogo de artifício oficial, para espanto de todos, incluindo dos chineses. A melhor explicação dada foi a de que enquanto que no ano passado as empresas pagavam ordenados a triplicar ou quadruplicar para que as pessoas de fora de Shanghai trabalhassem durante os festejos (especialmente na categoria de comidas e bebidas), este ano até pagavam os bilhetes de combóio de regresso às suas terras natais.

Antes do ano novo, notava-se a pouca afluência nos supermercados. Quando no ano passado tinha longas filas para as caixas com pessoas carregadas de brinquedos, roupas, vinhos e aguardente de arroz, este ano as caixas estavam quase desertas. As compras eram muito menores.

Por isso, num período em que a China já está integrada na OMC, e por conseguinte no sistema económico mundial, não é de espantar que a crise a tenha atingido. E se querem comparar com a situação de 1998, então devem tentar perceber o ritmo com que a China muda.

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