SHI Nai'an (施耐庵), Outlaws of the Marsh (水浒传). 6 vols. Foreign Language Publishing House, Beijing: 2006, 2ª ed., Col. Library of Chinese and English Classics, 3077 pág. Ed.bilíngue (inglês/chinês)
Não vou contar a história deste livro, é demasiado complexa e longa. Mesmo contando que as 3077 páginas narram em duas línguas, serão 1539 páginas por língua. Outlaws of the Marsh inclui-se nos quatro grandes clássicos da literatura clássica chinesa, escritos durantes as dinastias Ming e Qing (as duas últimas dinastias na China). Este livro em particular conta a história de cento e oito heróis com as suas histórias e características. Não concordo, no entanto, com o comentário no livro History of Fiction (recensão a ser escrita posteriormente), o qual indica que “after reading the book one may find that each of the one hundred and eight heroes is unforgettable” (pág. 149). Pelo contrário, por vezes é difícil recordarmo-nos da história de alguém que desapareceu entre vários capítulos, e num total de cem capítulos tal não é tão raro.
Para resumir a história em poucas palavras, os cento e oito heróis são criminosos da dinastia Song que actuam em nome do Céu (chinês). Criminosos que mataram, roubaram, mas de acordo com a história apenas com razão e contra quem merecia. Por causa de oficiais corruptos, viram-se obrigados a viver à margem da lei e a repelir todos os que os tentavam deter, incluindo tropas imperiais. Posteriormente, um perdão imperial lança-os para a capital onde são posteriormente enviados em campanhas de pacificação nas fronteiras. Aqui distinguem-se pelo seu valor e vitórias, mas por causa de ministros corruptos junto do imperador, não obtêm o fim que mereciam: pelo contrário, ou decidem viver em seclusão, ou são eliminados por esses mesmos ministros.
Durante o livro partilhamos as aventuras destes heróis, as suas frustrações e indignações, mas por outro lado há alguns pontos que deixam algumas reservas. Estes serão enumerados de seguida.
1. Lei. Como foi indicado anteriormente, estamos a falar de criminosos, isto é, de indivíduos que praticaram actos à margem da lei. Em muitos dos casos, estavam dispostos a cumprir a pena, mas por causa de inimigos, tais penas eram commumente exageradas ou inclusivamente os carcereiros/ guardas recebiam subornos para que os eliminassem. No entanto, para outros, roubavam ou dominavam zonas sem se deixarem apanhar. São criminosos em todo o sentido do termo. Por exemplo, logo no início do livro o bando junta-se para roubar um trém com prendas de um oficial do governo para o seu sogro. A razão para tal acto é que esse oficial adquiriu as riquezas explorando o povo, mas o objectivo do roubo era o enriquecimento rápido.
2. Face. Sem desenvolver o tópico, alguns dos heróis eram oficiais do governo que falharam nas suas tarefas, e não tinham face para regressarem. Na verdade, temiam mais as represálias, e por isso enveredavam pela carreira do crime.
3. Traições. Um ponto de ainda mais difícil compreensão é o facto de que o livro está coberto de artimanhas e traições. Quando o bando se estava a formar, procuravam talentos por todo o império. No entanto, como um cidadão cumpridor da lei nunca se juntaria a criminosos, estes últimos criavam truques em que tornavam os primeiros criminosos como eles. Tais artimanhas commumente incluíam assassínios, falsas acusações, por vezes morte de familiares, etc.
4. Vingança. À vingança é dada rédea solta. Por vezes quando pretendiam represálias contra alguém que foi injusto no passado, matariam toda a família e criadagem, além de incendiar a casa.
5. Persuasão. Pode ser defeito de tradução, mas a persuasão revela-se na derrota. Isto é, para os militares que eram enviados contra os cento e oito heróis, insultavam-nos quanto podiam, e davam a imagem que nunca mudariam de opinião. Até perderem batalhas suficientes e serem capturados. Aí, ao ver a sua vida poupada, subitamente notavam que na verdade os criminosos é que actuavam correctamente. Hum... não soa a cobardia?
4. Guanxi. Também sem desenvolver o tópico, e com os devidos ajustamentos temporais e espaciais, parece-me actualmente ainda ver uma herança cultural de uma prática que neste livro se mostra tão aberta e exemplificada.
5. Emoções. Mais uma vez pode ser defeito de tradução, mas o personagem principal da história, Song Jiang, líder do bando, chora que nem uma menina. Chorar por perder companheiros na guerra ainda se compreende, mas quando se separa dos amigos, aí já começa a parecer mais um concurso de Miss Universo que um livro bélico...
Aconselha-se este livro para quem tem tempo para ler, tanto pelas aventuras como pela ideia de que dá da cultura chinesa. No entanto, abriu-me a curiosidade para ler mais sobre a moralidade chinesa e atitudes críticas (não marxistas) perante este livro.
sábado, 9 de maio de 2009
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