‘A China é grande’. Para minha grande surpresa, esta foi uma das primeiras lições do meu Mestrado em Estudos Chineses. Um Professor Catedrático americano, das maior eminências internacionais em economia chinesa, começa o Mestrado a notar um facto que toda a gente sabe. No entanto, quase oito anos volvidos sobre esta lição, é das que mais me marcam e das que considero mais verdadeiras – e mais importante de reter.
Facilmente confirmamos que a China é um grande país, um dos maiores do mundo, com a maior população. O seu nível de poluição começa a afectar a Europa, a área de uma única província chinesa é maior que Portugal, a população de uma cidade como Shanghai ultrapassa a população portuguesa, e mesmo a população de uma vila ou aldeia é maior que a da nossa capital.
Mas ainda mais facilmente nos esquecemos o que isso significa na realidade. Vemos pontinhos no mapa da China a representar cidades e – com a nossa mentalidade da dimensão de Portugal – julgamos que as podemos percorrer num dia. Lemos sobre uma política que afectou algumas aldeias de uma província e esquecemos que estamos a falar de milhões de pessoas. Ouvimos de uma cidade como Shanghai ou Pequim e passa-nos ao lado que não estamos a falar de uma cidade como em Portugal, mas uma área maior que Grande Lisboa e o Grande Porto.
Para dar um exemplo, dias atrás uma amiga gozava-me porque demoro duas horas e meia a chegar ao aeroporto a partir de minha casa para apanhar um voo de uma hora. Diria um português – isso é como morar em Coimbra e ir a Lisboa apanhar um voo, não é diferente. Sim, mas a diferença é que eu moro em Pequim, e o aeroporto é o de Pequim. Eu moro a Sudoeste do quarto anel, o que significa que ao sul da minha casa ainda temos o quinto anel a área para além disso. O aeroporto é no nordeste do quinto anel. Poderia atravessar Pequim trasversalmente, mas devido a problemas de trânsito, tenho de seguir pelos anéis. Com algum trânsito pelo caminho, a minha viagem pode demorar entre 1 hora e meia a 2 horas e meia.
Ainda não estão convencidos? Ok, vejam o mapa de Pequim. A Praça de Tiananmen e a Cidade Proibida ocupam um pequeno ponto no centro. Atravessar a Cidade Proibida por fora desde a Praça de Tiananmen no Sul e o Beihai Park no Norte: pelo menos uma hora e meia a pé. De Sanlitun – um dos centros de entretenimento nocturno em Pequim – até minha casa durante a noite, sem trânsito: pelo menos uma hora de táxi.
De facto, a China é grande...
terça-feira, 22 de abril de 2008
quarta-feira, 16 de abril de 2008
(L) China
- Porque tens esse nick de (L) China?
- Ainda não viste? Estão todos a pôr esta expressão junto do nome
- Não, não vi, és a única da minha lista...
Porque estão então todos a pôr este nick?
- Não tens lido as notícias?
- Tenho, mas.... porque razão exactamente?
- Estamos a mostrar o nosso apoio pelos Jogos Olímpicos
Foi mais ou menos assim que decorreu uma conversa que tive hoje no MSN. Pouco tempo depois, começavam a saltar cada vez mais corações na minha lista. Não sei quem começou, não sei por onde começou, mas em pouco tempo quase todos os meus contactos chineses no MSN, do norte ao sul da China, mostravam o mesmo nick. Além disso, também um ou outro estrangeiro, obviamente residente na China...
Ironia do destino, quando os JO foram criados para unir, estão agora a criar divisão...
Etnocentrismo ou diversidade cultural?
Por mais que se diga que a China está ocidentalizada, a China é diferente. No modo de agir, no modo de pensar, no modo de sentir, é diferente. Quantas vezes os estrangeiros reunidos num bar com uma cerveja na mão dizem que os chineses não têm sentido de humor, que não são maduros, que não sabem aproveitar... Os chineses, por outro lado, fazem comentários sobre os ocidentais que muitas vezes soam completamente irreais. Desconhecimento cultural? Incompreensão civilizacional? Talvez...
O facto é que vivo na China há quase sete anos, um quarto da minha vida (estou a facilitar quem tem curiosidade sobre a minha idade), e considero ter uma imagem dos chineses que vai para além da superfície. Desde o início que têm insistido que nunca poderei ser completamente chinês – para minha felicidade, não é dos objectivos que me propus quando vim viver para aqui. Mas sempre pensei que poderia interpretar os gestos, expressões e costumes com maior profundidade – explicar, não descrever.
Veio então a ideia deste blog, maturando desde longo tempo no lado criativo da mente, abafado durante mais tempo pela veia preguiçosa – não transportava sangue suficiente para o cérebro trabalhar – e precisamente quando tinha histórias das minhas aventuras aqui na China (não, não conheci o Superhomem, as minhas aventuras são mais rotineiras), puseram-me novamente a dúvida que o que falo sobre a China tem o preconceito europeu – os chineses diriam ocidental – escrito a letras garrafais.
Reconheço que o que digo aqui é subjectivo – se fosse objectivo não seria tão interessante – mas não quero estar errado. E estarei errado se as minhas conclusões são postas em causa porque a minha referência é europeia, e por isso, novamente, superficial. Nasce deste modo a dúvida: até que ponto estamos a ser etnocêntricos ao avaliar as diferenças culturais? Até que ponto gostaria que estrangeiros comentassem sobre o meu país como se o que sabem eles é o mais correcto?
Por isso, o que quer que escreva neste blog, será sempre de um ponto de vista de aclamação da diversidade, de curiosidades para europeus, e nunca para julgar, criticar ou ofender. Só pretendo perceber, compreender, e poder explicar. O que aponto como diferente é para lusófono perceber, não para declarar a verdade. Como defensores da verdade já temos quantos bastem pelo mundo fora.
Nada de sentimentalismos patrióticos. Nada de emotividade. Apenas diferenças de opinião, possíveis explicações, curiosidades e notas. Que esta mensagem sirva de prefácio ao blog.
O facto é que vivo na China há quase sete anos, um quarto da minha vida (estou a facilitar quem tem curiosidade sobre a minha idade), e considero ter uma imagem dos chineses que vai para além da superfície. Desde o início que têm insistido que nunca poderei ser completamente chinês – para minha felicidade, não é dos objectivos que me propus quando vim viver para aqui. Mas sempre pensei que poderia interpretar os gestos, expressões e costumes com maior profundidade – explicar, não descrever.
Veio então a ideia deste blog, maturando desde longo tempo no lado criativo da mente, abafado durante mais tempo pela veia preguiçosa – não transportava sangue suficiente para o cérebro trabalhar – e precisamente quando tinha histórias das minhas aventuras aqui na China (não, não conheci o Superhomem, as minhas aventuras são mais rotineiras), puseram-me novamente a dúvida que o que falo sobre a China tem o preconceito europeu – os chineses diriam ocidental – escrito a letras garrafais.
Reconheço que o que digo aqui é subjectivo – se fosse objectivo não seria tão interessante – mas não quero estar errado. E estarei errado se as minhas conclusões são postas em causa porque a minha referência é europeia, e por isso, novamente, superficial. Nasce deste modo a dúvida: até que ponto estamos a ser etnocêntricos ao avaliar as diferenças culturais? Até que ponto gostaria que estrangeiros comentassem sobre o meu país como se o que sabem eles é o mais correcto?
Por isso, o que quer que escreva neste blog, será sempre de um ponto de vista de aclamação da diversidade, de curiosidades para europeus, e nunca para julgar, criticar ou ofender. Só pretendo perceber, compreender, e poder explicar. O que aponto como diferente é para lusófono perceber, não para declarar a verdade. Como defensores da verdade já temos quantos bastem pelo mundo fora.
Nada de sentimentalismos patrióticos. Nada de emotividade. Apenas diferenças de opinião, possíveis explicações, curiosidades e notas. Que esta mensagem sirva de prefácio ao blog.
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